Liderança Autêntica: com ou sem dogmas?
- Sofia Lavos
- 1 de fev. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de fev. de 2024
Há no mundo empresarial uma extrema ambiguidade sobre o que significa – realmente - ser um ‘líder autêntico’.
Muitas vezes a autenticidade é produto de reações ingénuas, outras imaturas, obtusas e inflexíveis de adaptação a um contexto. Inversamente, também é comum reagir-se com uma certa veemência a lideranças demasiado camaleónicas, que encarnam personagens de acordo com o cenário.

Tornemos esta ambiguidade tangível: com duas pequenas histórias ficcionadas.
Imaginemos a Carolina. Gestora de sucesso que soma conquistas e se destaca no campo relacional pela proximidade, empatia e capacidade de envolvimento das equipas. O desafio que assumiu implicava a transformação organizacional de toda a sua unidade. A gestora manteve o padrão relacional onde se sentia confortável e que tantas provas deu no passado. A empresa era mais hierarquizada e formal das que estava habituada a trabalhar; a sua chefia era distante no trato e fortemente orientada a resultados. A empresa passava por uma reorganização profunda e a sua equipa encontrava-se improdutiva e altamente desmotivada. Carolina repetiu o padrão de aproximação e, numa das primeiras interações com a equipa, assumiu genuinamente que estava “assustada” e precisava da ajuda de todos. Em 3 meses, a diligente e responsável Carolina desdobrou-se para chegar a tudo e a todos: estava em múltiplas frentes de trabalho e prestes a entrar em burnout.
Imaginemos o Pedro. Este profissional destaca-se pela assertividade, pragmatismo, orientação a resultados; com um passado de muitas concretizações e resultados positivos para as várias organizações por onde passou. Dono de uma capacidade analítica e visão de negócio irrepreensíveis foi recebendo feedback, ao longo da carreira, sobre o seu caráter mais “explosivo”, em diversas situações. Assumiu uma nova equipa muito experiente, numa nova área de negócio, numa empresa que funcionava numa lógica matricial e onde o feedback regular era prática comum. Em 3 meses, o Pedro sentia-se profundamente não reconhecido, a ligação com a equipa era frágil e tinha a desconfiança dos pares. A falta de conexão com a empresa levou-o a pensar que para vingar teria de ser profundamente falso.
Estas histórias são comuns e revelam dilemas que líderes enfrentam: entre a fidelidade fácil à sua natureza e o ajustamento do seu perfil aos novos contextos.
Para ultrapassar estes desafios há que explorar a autenticidade adaptativa.
Como fazê-lo?
Conhecer profundamente o novo contexto
O líder deve procurar saber, entre outras coisas: o que define um “bom desempenho”; quais são e como funcionam os processos-chave; quem são as pessoas (as competentes, confiáveis e influentes); quais foram as histórias de mudança passadas; quais são os desafios e oportunidades (presentes e futuros) da organização e do líder; e qual é a cultura, no que se percebe que deve ser preservado e no que se pretende mudar.
Aprender a copiar os outros, mas bem!
O líder deverá observar (e muito!), ter vários modelos de referência e apreender o que funciona e o que não funciona. Depois, deve combinar tudo o que já aprendeu com os estilos e comportamentos de outros, vários, que lhe sirvam, que lhe sejam “confortáveis” adotar.
Foco na aprendizagem, como habilitador da melhoria do desempenho
Mais que fazer tudo a todo o tempo, o foco deve estar em trabalhar para melhorar: estabelecer objetivos de aprendizagem ajuda a explorar o tipo de liderança a desenvolver.
Atualizar continuamente a narrativa de liderança
Ao longo da carreira profissional vão-se criando, de forma consciente ou não, lições que se tiram de momentos relevantes de experiência profissional. Os líderes tendem a recuperar esses ensinamentos para aplicá-los em situações onde identificam semelhanças. É preciso ir atualizando as narrativas que se contam sobre sucesso.
A autenticidade diz respeito ao que é único e inimitável e, por isso, cada líder tem em si o potencial de ser marcadamente distintivo. A aprendizagem e a adaptabilidade propiciam o sucesso da liderança, na eficácia e na sustentabilidade dos seus resultados.
Que autenticidade e adaptabilidade sejam parceiras sérias: pela liderança autêntica e adaptativa e… pelo fim dos dogmas!




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